Quase um mês após a declaração do Estado de Emergência em Portugal, o nosso país continua a receber elogios pela forma como está a lidar com o novo coronavírus.
A primeira referência ao modo exemplar como os portugueses estavam a lidar com as medidas de confinamento e isolamento social chegou a 27 de março. O embaixador do Reino Unido em Portugal, Chris Sainty, em declarações ao portal Portugal Resident, dizia que as qualidades do povo português “permitirão a Portugal vencer a batalha contra o vírus”. O diplomata destacava a “dedicação, coragem e resiliência das pessoas no serviço nacional de saúde, nos serviços de emergência e em muitas outras ocupações da linha de frente”, bem como a disponibilidade “para ajudar os idosos, os vulneráveis e os necessitados”.
Contudo, a notícia que colocou Portugal no radar dos exemplos a seguir chegou a 30 de março, num artigo de opinião da rádio France Inter. O jornalista Anthony Bellanger chamava “mistério português” ao facto de, enquanto Espanha tinha, na altura, 85 mil casos e mais de 7000 mortes, Portugal continuava com números muito abaixo do país vizinho.
Mas tal mistério poderia ser explicado por a nossa fronteira terrestre ser com apenas um único país – Espanha, e devido a Portugal viver muito do turismo, que se extinguiu de um dia para o outro, reduzindo assim a possibilidade de casos importados. Além disso, o sucesso do país no combate à pandemia deve-se, segundo o jornalista, à forte disciplina do povo português, citando António Costa e alegando que, já no final de fevereiro, quem vive por cá começou, voluntariamente, a isolar-se.
Dias depois, a 3 de abril, Bénédicte Lutaud perguntava no jornal francês Le Figaro se “Portugal é realmente uma exceção europeia?”. Comparado com o número de mortes de outros países da Europa Ocidental, Portugal parece ser a exceção. Tanto assim é que se evoca um ‘milagre português’.
Também na Bélgica, a televisão pública RTBF falava, a 5 de abril, que Portugal parecia estar a ser poupado à pandemia. Os belgas apontavam algumas das razões já lançadas pelos franceses, como a questão geográfica, a disciplina dos portugueses e a estabilidade política, entre as armas eficazes no combate à propagação do vírus.
A 7 de Abril, o nosso país era referido no jornal norte-americano The New York Times, numa reportagem intitulada “A crise de coronavírus em Espanha acelerou à medida que os alertas foram sendo ignorados”.
O autor, Raphael Minder, analisou a resposta de Espanha ao surto da Covid-19, fez comparações com o caso português e deixou elogios à forma como o Governo de António Costa lidou com a pandemia, tendo mesmo afirmado que Portugal “saiu-se muito melhor” do que a Espanha. Ao contrário do que aconteceu com Pedro Sánchez, António Costa foi apoiado pela oposição na estratégia de combate à pandemia.
Fernando Rodríguez Artalejo, epidemiologista e professor universitário entrevistado pelo jornal nova-iorquino, disse que o nosso país “merece admiração”, uma vez que Portugal agiu “de forma eficiente e ao mesmo tempo que nós [Espanha], mas numa altura em que a epidemia não era tão generalizada”.
Mais recentemente, a 12 de abril, o jornal El País publicou que os “britânicos, suíços, holandeses ou alemães poderiam aprender alguma coisa com o sulista e latino Portugal”.
Num artigo dedicado à forma como a crise tem sido gerida, o periódico espanhol apelida os portugueses de “os suecos do Sul”, aludindo à comparação feita pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa em dezembro de 2017, então a propósito dos “feitos diplomáticos do país”. Uma expressão que “poderia muito bem estender-se hoje à luta contra o coronavírus”.
O jornalista Javier Martín Del Barrio escreve que “neste momento, os dados lusos são muito mais lisonjeiros do que os de França, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Bélgica ou Suíça, estereótipos da suposta eficácia, disciplina e racionalidade do norte da Europa”.
E prosseguiu dizendo que esta crise aproximou, não só os partidos, como também Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, que “complementam e, publicamente, esquecem as discrepâncias. Se hoje não há provas de que a unidade institucional cure epidemias, há que as disputas políticas aumentam o mal-estar social”.
No artigo pode ler-se ainda que “nas redes [sociais] portuguesas, é impossível encontrar vídeos de cidadãos insultuosos ou raivosos (nem engraçados). Nas ruas, a polícia não controla, sensibiliza; não multa, recomenda. Em abril, apenas deteve – no sentido mais leviano do termo – 74 pessoas por romper o confinamento”.
E ainda mais cedo, a 19 de março, a luta de Portugal contra a pandemia era chamada num artigo da revista norte-americana Forbes, intitulado “O que precisa saber agora sobre o Coronavírus em Portugal: um estado de emergência”. A repórter de viagens Ann Abel, a viver em Lisboa, escrevia que “até agora, Portugal conseguiu evitar o crescimento explosivo de casos que outros países europeus tiveram”, uma “sorte” que “não deve durar”, avisava a autora.
No entanto, parece que essa “sorte” parece continuar a prolongar-se no tempo, quase um mês depois.
Ainda assim, e para que Portugal continue a ser falado lá fora pelos melhores motivos, o Portas Abertas apela:
Pela sua proteção, pela proteção de todos os profissionais de saúde, por si, por eles, por todos nós, #FiqueEmCasa e continue a abrir as portas à solidariedade!
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